domingo, 15 de abril de 2012

Nunca é Tarde Para Se Manifestar

Hoje recebi um e-mail um tanto carinhoso de uma colega que recentemente começou acompanhar o blog. No e-mail ela disse:
''Você está nao postou NADA da morte da eliane tranchesi, nem uma nota em seu blog, vc assim como todas nos q gostamos d moda, gostariamos de ter tido alguma posiçao sua perante o fato ocorrido, eliana é uma referencia no mundo da moda. Ainda da tempo de postar algo. Bjx Marina, seu blog ta lindu''

Então diante disso, posso responder, que quando eu soube da morte de Eliana Tranchesi, pensei muito se devia falar alguma coisa aqui no blog ou não.
Primeiro fiquei triste com o desfecho de uma situação que começou há alguns anos, quando a polícia praticamente invadiu a casa dela de uma forma agressiva, desnecessária, provocando vergonha e humilhação, que no meu entender Eliana, só trouxe mais benefícios ao desenvolvimento do comércio de LUXO no Brasil do que danos.

Não sou jornalista e tampouco tenho formação acadêmica para isso. E não saberia expressar meus sentimentos de uma forma condizente. Escrevo o blog por puro prazer! Claro que fiquei na dúvida entre escrever algo ou não, porque achei que fosse 'meio que forçar a barra'. Porém não saiu da minha cabeça se eu deveria ou não tomar uma posição e publicar algo quanto a isso. Foi quando li um texto escrito por Hildegard Angel, uma jornalista brilhante, que sabe colocar no papel muitas vezes aquilo que pensamos, mas não sabemos expor.
Por isso transcrevo abaixo o que Hildegard A. escreveu em seu blog e que é exatamente o que eu 'Mayara Valentina' penso.
Marina, obrigada pelo e-mail, e não digo só a você mas a todos, 'nunca é tarde demais', e faço das palavras dessa sábia jornalista as minhas.


Leiam abaixo o desabafo de HILDE.


Não posso fazer simplesmente um silêncio respeitoso, neste dia da morte de Eliana Tranchesi. Mulheres empreendedoras, visionárias e corajosas como ela merecem muito mais. Merecem um féretro majestoso e sentido, soluços e lágrimas de pesar. Pois não me venham com pedras na mão os patrulheiros falar em débitos com o fisco, pois é à Eliana que a Receita do Brasil deve muito mais. Deve a ela ter aberto os olhos e a atenção do mundo para o mercado brasileiro do luxo. Não apenas o mercado que consome as grifes estrangeiras, que Eliana brilhantemente reuniu num templo único sobre a Terra, a Daslu paulistana, como em capital alguma do mundo havia igual. Falo do mercado brasileiro que produz luxo. Pois uma coisa puxa a outra. Bastou os estrangeiros aportados aqui trazidos por ela, para os nacionais rapidinho passarem a produzir luxo também, cortejando e disputando o mesmo mercado, quer com seus produtos colocados na mesma Daslu, ou quer ousando investir em suas lojas próprias suntuosas. E assim foram se multiplicando, no país, as marcas de luxo brasileiras, as muitas lojas multimarcas, à exemplo da Daslu, que hoje proliferam, não só nas capitais, mas em todas as grandes cidades...


Estão aí, por toda parte, as ''crias'' da Daslu, vendendo, empregando, produzindo, gerando divisas. Tudo fruto da visão dessa mulher extraordinária, incansável, trabalhadora, dedicada e silenciosa. Que não abria a boca sequer para se defender. Discreta, quieta, voltada exclusivamente 24 horas de seus dias, noites e madrugadas, para seu trabalho, sua Grande Filha: a Daslu. E criou um padrão, um modelo comercial. Criou também, as Dasluzetes, quando pela primeira vez vimos sobrenomes coroados brasileiros disputando, quase a tapa, o privilégio de trabalharem como vendedoras numa loja. O que dignificou também a atividade comercial, até então vista como uma profissão de segunda classe...


Sua declarada admiradora, quando o mundo desabou sobre ela, tomei um avião e fui a São Paulo, expressamente para abraça-la, apesar de não ser sua amiga íntima nem muito próxima. Apenas para demonstrar minha solidariedade e admiração. Cheguei à loja linda, anunciei-me. Eliana interrompeu sua rotina pesada, sei o que isso custa para uma pessoa realmente ocupada, e gentilmente foi me encontrar, acho que na loja do Valentino. Nos cumprimentamos, nos abraçamos, falei de minha imensa admiração por ela e não tocamos diretamente no assunto em pauta nas manchetes dos jornais. Mas ela sabia porque eu estava ali. Não nos vimos mais...


Eliana colecionou e disseminou pioneirismos no comércio do luxo e no comércio da moda, no país em que o emaranhado de leis e o labirinto burocrático travam, enclausuram, praticamente inviabilizam qualquer voo diferenciado. Não estou com isso tentando justificar o injustificável: o drible de leis. Mas quem é do ramo, sabe que é praticamente impossível para um empreendedor visionário e sonhador, que pensa longe e pensa grande, sair do lugar, crescer, se expandir, submetido a essa armadura brasileira chamada conjunto de leis fiscais e trabalhistas, que muitas vezes só funciona se bem azeitado com um combustível chamado 'molhar-a-mão'...


O Brasil, porém, está mudando. Parece que está. Tomara. Que a morte hoje de Eliana Tranchesi, vítima do 'câncer da humilhação', sirva de mais um alerta para que sejam apressadas as inadiáveis reformas fiscais, que há tanto repousam em berço esplêndido em nosso Congresso...


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